Subri, depois de passar noites acordado com dores de dentes, pede autorização para se ausentar a fim de ir de comboio a Alepo, ao dentista. Regressa dois dias depois, a sorrir.
A sua narrativa dos acontecimentos é a seguinte:
"Eu vou ao dentista. Sento-me na cadeira. Mostro-lhe o dente. Sim, diz ele, tem de ser arrancado. Quanto é, digo eu. Vinte francos, diz ele. É absurdo, digo eu e saio da casa. À tarde vou outra vez. Quanto é? Dezoito francos. Digo outra vez absurdo. A dor vai aumentando o tempo todo, mas uma pessoa não pode permitir que a roubem. Volto na manhã seguinte. Quanto é? Dezoito francos ainda. Outra vez ao meio dia. Dezoito francos. Ele julga que a dor me há-de vencer, mas eu continuo a regatear! Por fim, eu venço."
"Ele baixa?"
Subri abana a cabeça.
"Não, ele não baixa, mas eu faço um belo negócio. Muito bem, digo eu. Dezoito francos. Mas por esse preço tem de me arrancar não um dente, mas quatro!"
Subri ri-se com enorme satisfação, mostrando vários espaços sem dentes.
"Mas os outros dentes doíam?"
"Não, claro que não. Mas um dia iam começar a doer. Agora já não podem. Foram arrancados, e pelo preço de um."
in Come, tell me how you live,
de Agatha Christie
ahahahah... o que gosto de pessoas praticas :)
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